O papel dos fatores de proteção no desenvolvimento da resiliência

Alina OliveiraConsultora, Formadora e Coach


O papel dos fatores de proteção no desenvolvimento da resiliência

 

As condições que ajudam as pessoas a lidarem positivamente com os problemas e as situações, sem se deixarem abater pelos seus efeitos, são designadas de fatores de proteção.

 

Funções dos fatores de proteção

Segundo M. Rutter[1], os fatores de proteção cumprem 4 funções principais:

  • Reduzir os impactos dos riscos, alterando a exposição da pessoa à situação adversa;
  • Reduzir as reações negativas em cadeia que se seguem à exposição do indivíduo à situação de risco;
  • Estabelecer e manter a autoestima e autoeficácia, através do estabelecimento de relações de apego seguras e o cumprimento de tarefas com sucesso;
  • Criar oportunidades para transformar os efeitos do stresse.

 

Fatores de proteção transversais e multiculturais

Tendo em conta que podem variar de acordo com aspetos culturais e etários, apresentamos a seguir 4 fatores de proteção transversais e multiculturais:

1. Desenvolver relacionamentos interpessoais onde exista afeto e apoio

As pessoas que desenvolvem a sua área sócio emocional conseguem, mais facilmente, obter ajuda nos momentos difíceis.

Quando a vida parece desmoronar-se é importante ter bons amigos com quem contar.

Para ter amigos é necessário ser-se amigo. Ter pessoas capazes de escutar sem julgar, pessoas das quais sabemos “que estão lá!

Para cultivar esta disponibilidade e confiança, é fundamental cuidar de si próprio. Aumentar a autoestima, valorizar-se física e intelectualmente, quer a nível pessoal, quer profissional. Aprender a gostar de si próprio, aumenta a predisposição para ter melhor humor, sentir-se mais animado, mostrar um sorriso e estar disponível para dar, sem pedir ou esperar algo em troca.

Quanto mais uma pessoa dá de si própria aos outros, sentindo essa vontade e prazer, mais recebe em troca. As relações interpessoais tornam-se dominantemente caracterizadas pelo respeito mútuo, a autonomia pessoal e a partilha.

Ao invés, as pessoas que alimentam relações onde imperam as agressões verbais, as zangas, as críticas destrutivas, a desonestidade e a prepotência, geram tensões, conflitos, desconfiança e afastamento (por vezes irrecuperável).

 

2. Resolver problemas e fixar objetivos

As pesquisas demonstram que um dos fatores que diferenciam as pessoas resilientes das menos resilientes é a capacidade para resolver problemas e definir objetivos.

Face a obstáculos, as pessoas mais resilientes acreditam em si próprias e têm uma atitude positiva que as torna capazes de continuar a atingir objetivos e obter sucessos.

No entanto, também é um fator importante de resiliência ser capaz de “pedir ajuda”; não como sinónimo de dependência ou ignorância, mas como um meio que ajuda a aumentar a capacidade individual de lidar com desafios importantes da vida.

As pessoas resilientes rodeiam-se de outros que as ajudam a colocar os problemas em perspetiva, compreendendo as suas preocupações e convicções; pessoas que as escutam, valorizam e respeitam as suas opiniões, sonhos e ideias inspiradas (ou inspiradoras!).

 

3. Participar ativamente

As pesquisas são conclusivas quanto ao facto de as pessoas resilientes se dedicarem a hobbies ou terem ocupações que lhes proporcionam prazer, nomeadamente, a prática de um desporto, cantar ou tocar um instrumento musical, pintar, ler ou escrever.

Um dos benefícios advém de estas práticas ajudarem a esquecer, de uma forma saudável, os problemas e o stresse, fazendo com que se sinta útil. Por exemplo, envolver-se num projeto com o qual se identifique e onde possa sentir-se valorizado e apreciado (numa organização ou na comunidade).

Praticar voluntariado, contribuir para uma causa, permite relativizar os problemas, reforça laços socio-afetivos, é excelente para conhecer outras pessoas e desenvolver novas áreas de interesse.

Frequentemente a vida pode ser difícil. No entanto é possível controlar as respostas às dificuldades, criando antecipadamente fatores de proteção para se tornar mais resiliente face às adversidades – este é o lado positivo da vida que pode ser realçado pelas experiências de cada um.

 

4. Aprender continuadamente

Algumas pessoas pensam que “estudar é nos tempos de escola!” No entanto, estudar, aprender algo novo, ler, viajar, conversar com pessoas de outras culturas, ajuda a progredir na vida, a aumentar a sua maturidade e estar mais capacitado para enfrentar situações novas com sucesso.

Neste âmbito, as “ferramentas de desenvolvimento pessoal” inserem-se entre as mais importantes. É possível aprender a definir claramente expectativas, a focalizar-se em prioridades, a dizer “não”, a gerar alternativas, a gerir conflitos, a liderar…

 

[1]Sir Michael Rutter é reconhecido internacionalmente na sua investigação dos fatores biológicos e psicológicos que influenciam a saúde mental de crianças e adolescentes.

 

 

Escrito por

Alina Oliveira

Autora do livro “ Resiliência para Principiantes” – ed. Sílabo, 2010.Sou formadora e consultora nas áreas da gestão e liderança de equipas, resiliência, comunicação e gestão de conflitos, gestão do tempo, resolução de problemas, relações cliente/fornecedor.Um dos temas que mais me apaixona é a Resiliência, o que me levou a escrever um livro sobre essa temática: “Resiliência para Principiantes”.
Saiba mais