Lidar com o medo e a ansiedade nos contextos mais desafiantes

Alina OliveiraConsultora, Formadora e Coach

Agora que começamos a retomar algumas atividades do quotidiano neste contexto de desconfinamento progressivo, será expectável que emoções como o medo e a ansiedade devam diminuir?

Com o feedback das pessoas que acompanho em psicoterapia e nas aulas de relaxamento e meditação, tive a oportunidade de observar que o período de confinamento trouxe várias aprendizagens, mesmo que subtis. Aprendizagens sobre a forma como gerimos as nossas relações, sobre a nossa capacidade de resiliência para gerir um sem fim de tarefas e, nalguns casos, a capacidade de cuidarmos de nós próprios e da nossa “bolha de oxigénio”, mesmo sem sairmos de casa. Algumas pessoas inclusive conseguiram investir mais tempo nas coisas que lhes dão esse oxigénio e as fazem sentir bem.

Agora, podemos também cuidar de nós sem estarmos limitados às quatro paredes das nossas casas: recuperamos gradualmente alguns contactos com as pessoas mais próximas, frequentamos lugares que tanta falta sentimos e vários setores voltaram a abrir portas, o que pode levar, à partida, a que sintamos um maior bem-estar.

Ainda assim, nos próximos meses teremos como pano de fundo esta ideia de “regresso à nova normalidade”, retomando as atividades com novos cuidados, nomeadamente o distanciamento social e a utilização de máscara. Deste modo, emoções como o medo e a ansiedade poderão manter-se intensas em diversos contextos: posso sentir medo de ser infetado pela pessoa que tosse atrás de mim na fila do supermercado, ansiedade porque me mantenho em teletrabalho e com filhos em casa e sinto que não consigo dar resposta às várias solicitações, ou mesmo porque estão muitas pessoas à beira-mar e eu quero muito dar um mergulho.

Importa lembrar que o medo e a ansiedade são respostas naturais que têm como principal função sinalizar o perigo, ameaça ou conflito e ativar respostas adaptativas apropriadas constituindo-se, portanto, como sinais de alarme, preparando o corpo para diferentes ações. No entanto, nem sempre as respostas são apropriadas, pelo que importa observarmos como essas emoções se manifestam no nosso dia-a-dia, em que situações, com que frequência e intensidade, tomando consciência do seu impacto e, caso seja necessário, procurando ajuda especializada para melhor lidar com as mesmas.

Felizmente, existem diversas estratégias baseadas na evidência que podemos utilizar para lidarmos com o medo e a ansiedade neste contexto pós-pandemia.

Além das práticas de meditação, como o mindfulness, que têm sido amplamente estudadas, pode aprender respiração abdominal,
técnicas de relaxamento como o relaxamento muscular progressivo ou
YogaNidra, journaling, práticas de gratidão ou mesmo passar mais tempo na natureza (pode consultar aqui algumas ideias).

Nas situações em que sente estas emoções com maior intensidade, pode também experimentar identificar o que está a sentir (por exemplo, dizendo mentalmente “estou a sentir medo” ou “sinto ansiedade no meu corpo”) e como essa emoção se manifesta no seu corpo (isto é, como sente a emoção no seu corpo, por exemplo, a respiração pode ficar mais superficial, o batimento cardíaco acelerado, transpiração nas mãos, etc). Experimente ficar apenas com essa experiência, sem ter de a rejeitar ou afastar, mas observando com a curiosidade possível nesse momento, como um filme a passar numa tela, com espaço suficiente entre si e a experiência.

Pode ainda experimentar registar num caderno as situações em que sente estas emoções e, para cada uma das situações, escrever que sensações físicas, emoções e pensamentos surgem nesses momentos. Experimente algumas estratégias e sinta o que é mais adequado para si em determinado momento.

Votos de que possamos cuidar bem de nós e da nossa “bolha de oxigénio”, sobretudo nos momentos mais desafiantes.

Escrito por

Alina Oliveira

Autora do livro “ Resiliência para Principiantes” – ed. Sílabo, 2010.Sou formadora e consultora nas áreas da gestão e liderança de equipas, resiliência, comunicação e gestão de conflitos, gestão do tempo, resolução de problemas, relações cliente/fornecedor.Um dos temas que mais me apaixona é a Resiliência, o que me levou a escrever um livro sobre essa temática: “Resiliência para Principiantes”.
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