O bom é inimigo do ótimo

Por o 4 Setembro 2015

O paradigma “o bom é inimigo do ótimo” tem uma larga tradição na vida empresarial, sobretudo nas formas de organização marcadas pelos excessos da industrialização e da burocracia, e tem sido aproveitado como bandeira de legitimação de práticas e atitudes daqueles que convictamente prosseguem o objetivo profissional de serem apenas «suficientemente bons para não serem despedidos». Mas não é, de todo, nem o tipo de atitude requerido nas empresas modernas nem a mentalidade consentânea com «o trabalho do futuro».


bom_otimoÉ habitual dizer-se que os provérbios e os chamados «ditados populares» (em boa verdade, deveriam ser designados por «ditos populares») são portadores de «verdades fundamentais» que são tidas como garantidas ao longo dos tempos, através da legitimação da sua pura e simples ancestralidade. O que é facto é que nas nossas conversas quotidianas é frequente citarmos os tais «ditos populares» para sublinharmos a bondade de uma asserção ou legitimar um determinado ponto de vista, com a ênfase e a reverência próprias de quem se refere a verdades incontestáveis.

 

“O bom é inimigo do ótimo” vs “o ótimo é inimigo do bom”

Isto passa-se em relação à tão propalada e discutida expressão de que «o bom é inimigo do ótimo»; e, de facto, ela é tão discutida e tão difundida que, por vezes, uma generalização abusiva leva a que se se pratique, sem critério, a transformação semântica da frase, substituindo-a por uma outra, com ressonâncias semelhantes, mas de significado substancialmente diferente: «o ótimo é inimigo do bom».
Seja qual for o posicionamento relativo dos elementos significantes da frase, que não cabe problematizar e desenvolver neste espaço, ela é com frequência citada quando queremos defender a ideia de que não vale a pena sermos demasiado exigentes em relação a determinada coisa (o ótimo), aceitando a inevitabilidade de nos ficarmos sempre por uma certa mediania (o bom). E mais: se, por acaso, nos esquecermos do significado da frase e ignorarmos o seu incontornável realismo, a perseverança na porfia do ótimo poderá acabar por gerar condições para que nem o bom se consiga obter.
‘So’…, o melhor é ‘keep it cool’ e «não fazer grandes ondas», porque, no final, «o que for há-de soar».
Este paradigma de uma certa «áurea mediocridade» tem uma larga tradição na vida empresarial, sobretudo nas formas de organização marcadas pelos excessos da industrialização e da burocracia, e tem sido aproveitado como bandeira de legitimação de práticas e atitudes daqueles que galharda e convictamente prosseguem o objetivo profissional de serem apenas «suficientemente bons para não serem despedidos».
Mas não é, de todo, nem o tipo de atitude requerido nas empresas modernas nem a mentalidade consentânea com «o trabalho do futuro».

 

“Fazer mais com menos”

De facto, em contextos cada vez mais difíceis, exige-se de todos os profissionais que «consigam fazer mais com menos», o que só é possível através de uma atenção focalizada e de uma grande entrega e um grande envolvimento pessoal, sem reservas mentais nem tibiezas que possam constituir-se como barreiras ou obstáculos a uma verdadeira orientação para a excelência. Neste contexto, o paradigma mental não pode ser, já, o de ser apenas bom, em condições sociológicas e de mercado onde só os muito bons terão condições para viver percursos profissionais estimulantes e com sustentabilidade.
Nesta perspetiva, o bom será, realmente, inimigo do ótimo, sobretudo se se constituir como uma forma de obnubilação e de autoengano que nos impeça de ver a grandeza que desponta em cada um de nós.

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